segunda-feira, 18 de junho de 2012

chá das cinco com Guilherme Lima




o chá das cinco de hoje continua no mundo da Rua São Rafael, nº 15
e agora quem revive suas lembranças
é o terceiro neto de Dona Geralda
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guilherme é um super baterista
que aprendeu a tocar justamente ali
chegando a montar um studio em um dos cômodos da casa
onde ensaiava com sua banda
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me lembro de ter feito um ensaio fotográfico da Banda Merlin na Praça da Estação
e ainda tive a honra de ver de perto a gravação
de uma entrevista da banda para MTV lá na São Rafael
bacana demais recordar isso :)
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e nas voltas que a vida dá
hoje esse menino é meu chefe
entrou para o mundo de TI
mas com certeza sua paixão pela música vai continuar para sempre :)
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então agora convido você a pegar sua xícara de chá
se acomodar no sofá
e saborear mais um pouquinho dessas histórias de família :)
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beijos
claudinha




Na rua São Rafael morava um anjo
                                                               Guilherme Lima
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Nasci em 1972 e desde que me entendo por gente minhas lembranças são da casa da
rua São Rafael nº15. Passei pelo colégio Batista e pela pequena cidade de Mar de Espanha, mas de quase nada lembro.
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Na rua São Rafael conheci a infância alegre dos anos 70, onde ainda podíamos brincar

nas ruas sem os medos de hoje. Vivi a adolescência do anos 80, onde me envolvi com
a música e escolhi uma carreira, mas isso é um outro capítulo da história desta casa.
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Nesta ocasião vou lembrar uma fase da minha vida que nunca vou cansar de agradecer
a Deus a oportunidade de 15 anos de aprendizado pleno dos ensinamentos do Cristo.
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Nos meados dos anos 80, mudou-se para a rua São Rafael uma família que logo fizemos forte amizade, tinha crianças de nossa idade e alguns mais novos. O chefe desta família era caminhoneiro e vivia viajando, a mãe era uma pessoa no qual preciso descrever detalhes para completar a história, era uma pessoa muito simples e sempre (sempre mesmo) carregava um sorriso no rosto.
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 Alimentava todos que sentiam fome, não importava de onde vinham.Sua porta tinha sempre
um mendigo atrás de algo para comer, pois sabia que ali encontrava. Ela sempre tinha uma palavra de Deus para compartilhar e nunca vi, nos anos de convivência, ela falar mal de
algo ou alguém.
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Vou tentar contar em poucas passagens de minha vida o que vi deste anjo, mas garanto que não consigo em poucas páginas e nem sei se nesta minha aventura com as palavras vou ilustrar algum percentual da verdade que vi.

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Um dia ela estava caminhando pelo bairro Floresta e em sua direção vinham vários mendigos. Imediatamente ela começou uma prece silenciosa a favor daqueles mendigos e quando ela passou entre eles no mesmo passeio um deles parou e disse:
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- Dona,  não sei quem você é e nem de onde veio, mas saiu de você uma luz rosa e veio pra mim e minhas dores acabaram.

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Em outra ocasião minha mãe estava na sala de nossa casa e apareceu um mendigo que
tinha um apelido de “Tô com fome”, ele surgiu na porta da sala, onde havia uma janela que ficava sempre aberta, e começou uma sessão de insultos logo caindo sem consciência na porta da casa,  passava então um policial que veio se envolver no estranho caso. O policial levantou o mendigo e vendo que ele estava embriagado começou  a empurra-lo para fora da casa e da rua. Veio na confusão nossa vizinha e disse aflita:
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- Porque ele está apanhando? Ele nada fez, somente tem fome.

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Eu logo disse o que aconteceu, os insultos com tons pornográficos e o desmaio na nossa
porta e completei:
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- Cuidado com suas proteções, as palavras dele foram fortes, você tem uma filha nova
e chama a atenção destes mendigos todo o tempo, ainda mais que sua porta vive aberta.
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Ela parou o que estava falando com o policial e me disse:
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- Não é uma porta nem um policial, quem toma conta de minha casa. É Deus, e que
a vontade dele seja sempre feita.
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No final dos anos 90, minha vizinha veio a falecer e foi enterrada numa pequena cidade do interior de Minas. Lá eu fui, vi a família chorando e também vi um pai sereno que disse
para um dos filhos dela:
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- Meu neto, por que choras?

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Respondendo o neto sem entender:
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- Porque minha mãe morreu.
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Com a firmeza que nunca vi de um pai que perde uma filha, disse:
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- Pois pare de chorar, sua mãe vai diretamente para o céu. Porque se ela não for,
ninguém vai.
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Naquele velório eu percebi que eu estava diante da pessoa mais próxima de Deus que já tinha visto e como disse no inicio destas linhas, preciso agradecer a Deus todos os dias por passar vários anos de ensinamento cristão.
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Queria contar mais sobre a casa da rua São Rafael nº 15, mas de longe, os ensinamentos que tive com esta vizinha é o que levo comigo pra sempre. Ainda sonho com aquelas paredes grossas e o chão decorado.
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Lembro de cada parte quebrada daquele passeio, da pedrada que levei na testa e
que tenho a marca até hoje (foi o Wander). Das janelas grandes e das pequenas, onde as crianças menores viravam prisioneiras das maiores, mas quando volto meu pensamento para  tudo isso, eu lembro:
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Na rua São Rafael morava um anjo, e eu vivi isso.


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6 comentários:

Cla disse...

Que lindo depoimento ele escreveu Claudinha, ver em um ser humano tanta bondade e poder presenciar momentos de luz, é uma dádiva. Acho que nos dias de hoje existem poucas pessoas assim, com proteção divina e que acreditam que Deus é faz as coisas, a fé que ele descreveu nas linhas mostra tamanha alegria das pessoas que realmente a conheciam, que não a conhecia achava ela pretensiosa, mas ela mostrou a todos o quanto Deus é forte e com a fé podemos mover montanhas, adorei o texto, um grande beijo.

Beatriz disse...

Realmente surreal esta história. Nunca tive o prazer de conhecer uma pessoa como essa. Bjubas

Anônimo disse...

Nada me emociona mais e me completa de forma plena do que os relatos simples de vidas vividas com intensidade e que marcadas ficaram com pequenos detalhes, para serem lembrados em momentos especiais que mesclam a saudade e a oportunidade de termos conhecido pessoas inesquecíveis que de seu jeito fizeram a diferença.
Belo relato !
Abraços

Cris disse...

Ouvi várias histórias da vizinha iluminada; até já orei pedindo proteção em momentos difíceis, mas nenhuma me emocionou tanto como suas lembranças.
Muito lindo, Gui.
Entendo a importância que ela teve na vida de todos vocês e é gratificante conviver com um ser sempre em vigília, realmente Cristão.
Parabéns Claudinha pela iniciativa da Rua São Rafael, 15.
Beijos.

Anônimo disse...

Pessoas,

Obrigado pelos comentários, garanto que estes casos cabem em um livro bacana, mas vou deixar para um escritor..rs
Claudia, valeu pelo " super baterista" , e um dia vou escrever os casos musicais da rua São Rafael, das baterias de latas até gravações de CDs.

Obrigado!

Guilherme Lima

Anônimo disse...

gui, tive a sorte de conhecer essa vizinha maravihosa de coração tão puro e tanta bondade. sorte maior ainda eu tive quando fui abençoada por ela com as bençãos de Nossa Senhora...acho que estou abençoada até hoje.
Tia Ana