segunda-feira, 2 de abril de 2012

Chá das cinco com Iran e Iraq


o chá das cinco desta segunda
está surpreendente
com a envolvente história contada por meu sogro
um verdadeiro roteiro de cinema  :)
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Iraq é o nome dele
sim
I r a q
e foi justamente sobre isso
que sugeri que ele escrevesse :)
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confesso que fiquei com receio que ele não aprovasse
mas assim que leu minha proposta
aceitou na mesma hora
e escreveu especialmente para o blog rosa 
essa belíssima história real entre os irmãos Iran e Iraq :)
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então te convido a sentar-se à mesa
para saborear uma xícara de chá
e conhecer a cumplicidade desses meninos :)
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beijos
claudinha 
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I r a n  e  I r a q
                                                                   Iraq Rodrigues
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Coisas acontecem na vidada gente que quando passam não sabemos como se sucederam...
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Meus pais não eram pessoas lá de muita letra. Meu pai tropeiro, minha mãe, do lar. Só informo isso, por que não sei explicar por que eles nos registraram a mim e a meu irmão com esses nomes que carregamos : Iraq e Iran.

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Na minha distante e poeirenta Tumiritinga, no belíssimo vale do Rio Doce, onde nasci, nossos nomes já despertavam curiosidade. Não a minha ou a do Iran. Para nós era apenas normal. Não sabíamos que eram nomes mais raros. Iran, nem tanto. Mas Iraq,
não conheço outro.
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Diz a lenda que meu pai sabia que existiam dois lugares com esses nomes. Assim,
quando nascemos, nós os ganhamos, esses nomes que ainda hoje causam estranheza...
e curiosidade.
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Iran foi o meu companheiro de sempre, desde meu nascimento. Fiquei sabendo que tive uma irmã que nasceu e morreu no intervalo entre o nascimento do Iran e do meu.Claro,
não a conheci. Só sei que se chamava Maria do Carmo e morreu quando ainda conservava "os tépidos vestígios dos beijos divinais", aos cinco meses de idade. Mais um anjo no céu.
Por isso Iran era o mais próximo de mim, seis anos nos separavam. Mas ele sempre foi companheiro, com ele aprendi as primeiras letras do futebol. Em Tumiritinga só chegava rádios do Rio e de São Paulo. Então ficamos conhecendo seus times e aprendi com ele agostar do Vasco e do Corinthians. Mas eu era apenas um criança.
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Na minha tranqüila infância ele foi meu amigo e guarda-costas constante. Tomava conta do irmãozinho mais novo, e acho que gostava da responsabilidade. Levava-me à praia do rio Doce que ainda hoje existe e cuidava para que eu não me afogasse. Parece que ele obteve êxito, uma vez que ainda estou aqui, vivo.
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A gente brincava de esconder, no meio das grandes toras que havia perto do rio, onde havia serrarias e várias olarias. Era uma diversão só. Levou-me a ver meu primeiro filme – acredite, Tumiritinga tinha um cinema – e eu nem pagava para entrar.
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Meu último aniversário em minha terra natal foi em 1953, dia cinco de abril. No dia 19 enfrentamos a mudança para a capital, para a amedrontadora cidade grande. Chacoalhamos por horas e horas num velho trem da Central do Brasil com direito a baldeação em Santa Bárbara. Quando chegamos era noite. Ao sair da estação, vi aquela explosão de luzes, um bonde (o que era aquilo ?) passava e a nossa curiosidade pelas novidades só aumentavam.
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Bem, sei que fomos para a casa que a minha irmã Jacy, que tinha vindo antes, havia alugado. Na rua Pouso Alegre. O número era (e ainda é) 1216. Floresta. No coração dela. Bem no coração.
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Eu, com sete anos, o Iran com 13.Mas a diferença de idade não fez diferença. Ele me levava para passear, conhecer as novidades daquela cidade imensa e que desafiava nossa curiosidade. Parque Municipal...alguém já tinha visto coisa mais bonita ? Lembro-me como se tivesse sido ontem, fomos ao Cine Teatro Brasil e assisti “Tarzan e a montanha secreta”...que coisa impressionante. Nunca tinha visto uma tela de cinema daquela tamanho. E quantas portas de entrada e de saída...
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Com o passar dos dias, das semanas e dos meses, fui me acostumando ao entorno de onde morávamos. O bar do “Manel” português, a Panificadora da Floresta, na rua Salinas com Serravite...três cinemas, o Floresta Velho (na Pouso  Alegre), o Floresta novo (na Contorno) e o Odeon, também na Contorno, próximo ao viaduto.
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Aos domingos, era missa das oito na Igreja Nossa Senhora das Dores e depois, matiné no Floresta Novo, às dez da manhã.  Logo fiz amizades. Algumas duram até hoje. Mas o tempo passava e o Iran já estava trabalhando – antes de completar 14 anos – e já trazia coisas para dentro de casa. E tome presentes pro Iraq...e era doce, bala, drops, passeios de bonde, cinemas e até zoológico.
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Mesmo quando ele começou a namorar, não me deixava de lado. Ia com eles prá todo lado. Ora, a vida passa,o tempo também. Ele se casou, e eu batizei sua primeira filha, Clecienne. Quando tive meus filhos, os primeiros amigos, e os mais constantes e fiéis, eram os “meninos” do Iran, O Cazé e o Wander estão aí para não me deixarem mentir. Meu irmão levava-nos aos parques, levava meus filhos como se fossem dele também. Lembro-me de quando ele morou no Ed. Bento Paixão e ia em minha casa para nos levar
a passeios ou simplesmente nos levava para sua casa, onde os meninos se divertiam sempre e como nunca. Fosse qual fosse a hora, costumávamos ficar lá até de madrugada, ela ia, sempre com um sorriso no rosto, nos levar em casa.
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Creio sinceramente que meus filhos sentem muita saudade desses tempos, e se lembram com amor do tempo em que o Iran esteve morando em Itabira, e íamos com freqüência visitá-los. Ah! E o strogonoff da tia Clecy ? Não tinha nada mais gostoso...
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O tempo passou. Iran voltou a morar em BH e mais próximo de novo. A amizade dos primos só crescia...no passar do tempo, algumas coisa vêm, outras se vão. Nossa mãe se foi...papai também...e a tristeza passou a empanar todos os nossos encontros.
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Mas a vida continuava e tínhamos de seguir com ela. Agora, devido aos conflitos no Oriente Médio, as pessoas sempre queriam fazer brincadeiras, principalmente com meu nome.    “Oi Iraq, como vai o Iran ?”, diziam. “Estão brigando muito ?” Era sempre assim uma zoação que não acabava. Com ele acontecia também. Mas nós sempre levávamos tudo na brincadeira e esportiva.
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Um dia ele teve uma dor de cabeça muito forte. Médico. Tumor. Biópsia: malígno...alegria de viver que se foi...dor na família inteira. Bem perto do natal de 1999, ele foi internado com urgência na Santa Casa. E ali ficou prisioneiro de sua doença até o dia cinco de janeiro de 2000, quando Deus entrou lá e o libertou pro céu.
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Perdoem-me as lágrimas...
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18 comentários:

Wander disse...

Pai, fazendo a gente se emocionar no meio do dia, na hora do trabalho... pode não viu! Adorei o texto, adorei saber mais da sua infância, ver a foto me deu uma saudade enorme do tio Iran, e suas palavras o descreveram exatamente da forma como eu o conheci. Ele ainda é e sempre será o tio legal que todo mundo gostava. Pai, obrigado pelo texto, obrigado pela foto, pela emoção, obrigado por tudo. Obrigado Cláudia por ter criado este espaço também!
Abraços a todos,
Wander

Mary disse...

Realmente o texto é lindo. Mesmo não sendo da família dá para emocionar. Essas histórias de família são ótimas. Com certeza a Claudinha não imaginou que o chá das cinco iria trazer momentos tão emocionantes. Muito bom mesmo!!!

Alexandra Dacol disse...

Linda história, lindo poder " ler" esse amor em família.

luciana disse...

Oi Claudinha, bom dia!

Toda vez que venho aqui na sua casa (pois seu blog é como uma casa muito acolhedora), puxo a cadeira, pego minha xícara e preparo o ouvido para uma deliciosa história... hoje, foi impossível não pingar gotas das lágrimas dentro da xícara... lindo!!! Sempre que a água ferver, nos avise... tenha certeza que adoramos tomar esse chá com você e seus adorados convidados.

Beijos
Lu

Beatriz disse...

Claudinha e Iraq. Maravilhosas lembranças tão bem descritas que eu li e vi como num filme e (óbvio) me emocionei muito com este grande amor fraternal. Parabéns pela beleza de texto e muito obrigada. Beijubas cariocas

Marcelo Rodrigues disse...

Adorei também o texto... Alguns nomes citados ao longo da narrativa ja me são familiares graças ao meu amigo/irmão Wander... Saudades demais das nossas conversas, e das caminhadas em Budapest... Beijão para toda familia!

Unknown disse...

Marcelo! é você meu "cunhado"?
que bom te ler por aqui, ontem falei com o Wander que vc ia gostar de ler essa história! :)

bjos pra toda sua família :)
claudinha

Unknown disse...

Alê!!!!!
ai gente que felicidade ter vcs por aqui, compartilhando esse momento tão bonito! :)

bjos
claudinha

Unknown disse...

Luciana do céu!
que belas palavras que eu ganhei, muito obrigada!
é muito bonito saber que estou conseguindo realmente passar a essência do "chá das cinco" e do blog rosa!
volte sempre, pois a mesa está sempre posta para receber os amigos! :)

bjos
claudinha

Unknown disse...

minhas meninas junqueira
delícia demais ter vocês compartilhando essa fase linda do Rosinha!

amo vcs minhas queridas!

lembrei do querida e ri sozinha beatriz!!!!!! rs

bjos
claudinha

Unknown disse...

wander, vc não tem ideia da felicidade que fiquei ao receber o texto escrito por seu pai e a alegria por ter a chance de mostrá-lo para todo mundo!

não fui eu que escrevi
mas me sinto dona do presente também, "egoísticamente" falando! rs

esse texto clareou minha visão, meus pensamentos e consegui entender muitas coisas.

bonito demais ter essa oportunidade!

bjos
claudia

Anne disse...

Parabéns pelo texto, Iraq. Também sempre achei engraçado os nomes dos irmãos Iran-Iraq, principlamente quando conheci o Iraq nos idos de 1990, justamente quando havia um enorme conflito entre os dois países. Com esses nomes, não imaginávamos que pudesse haver uma amizade tão grande, tão fraterna entre eles. Exemplo de amor, de fraternidade de família para todos nós.

Alexander disse...

Wander, companheiro de profissão, terminei de ler o relato do seu pai aqui e não consegui evitar as lágrimas....a vida é intensa, efêmera e curta.... é preciso viver cada minuto como se fosse o último. Grande abraço. Alexander ( Bafo )

AL disse...

Adorando o Chá das Cinco.
Claudinha, daqui a pouco vc vai ter que pedirlicença para publicar no nosso blog!
Bjs

Anônimo disse...

Pois é, é com esse cara maravilhoso que divido minha vida, há quase dezessete anos. Ele é essa doce criatura, sensível e amoroso, um grande companheiro. Beijos para todos. Parabéns, Cláudia.
Carolina

Sonia Braga disse...

Que história linda...amei o texto e com certeza me emocionei no final, mas certa de que li uma linda história de amor!

Alessandra (Lele) disse...

Lindo texto. Fui lendo e vendo, essa linda história de amor, como um filme na minha mente. Não teve jeito, no final tive que chorar, senti como se o irmão fosse meu. As histórias dos nossos pais são realmente muito emocionantes. Parabéns!!!

Cris disse...

Parabéns a você Claudinha, e ao Iraq.
Fiquei emocionada com toda a expressão sincera de sentimentos; e apesar de não ter conhecido o Iran, transportei-me para o tempo, lugares e sensações descritas.
Muito lindo reter na memória imagens felizes e construtivas!
Beijos, Cris.